Amigos da UFRGS,
é com imenso prazer que eu os escrevo para apoiar a implantação de politica de cotas, de ação afirmativa na UFRGS.
Aos que não me conheceram, quando fui aluna de Ciências Sociais, me apresento. Chamo-me Marcia Moraes e fui estudante da UFRGS durante os anos de 2002 e 2003. Depois deste periodo, fui fazer intercâmbio na França em Ciência Politica no Instituto de Estudos Politicos onde eu pedi transferência e estou até momento.
Escrevo para contar uma das minhas ultimas lembranças da UFGRS, um dos motivos que pesou na balança no momento de voltar ao Brasil.
Era uma tarde de sexta-feira, quando fui à prédio de economia para uma daquelas aulas que eu, e muitos outros, achavam muito, mas muito muito motivante. Fui para escutar um pseudo-curso de Microeconomia. Ah, aproveito para agradecer o nobre ser, pois tive um problema de bagagem acadêmica para continuar a mesma matéria aqui na França. Por que serà ? No lugar de lecionar, o nobre ser preferia utilizar sua autoridade de professor sobre os alunos. Era um verdadeiro especialista em mostrar todo seu savoir faire, mas no momento errado.
No meio da aula dita de economia, o grande representante da cultura geral, me questiona sobre um certo tema. Bem, de qual cultura e o que ele chama de geral e de mundo, é outra historia. Então, pensei…Talvez, ele poderia ter me escolhido pelo meu lindo sotaque pernambucano, que, na epoca, era um pernambucho. Mas, não ! Ele tinha me escolhido pela minha bela cor. Certo, eu era mais « brozeada » que os outros. Talvez, por isto, foi mais facil se dirigir a mim. Assim, ele poderia se lembrar a quem ele tinha perguntado na aula seguinte. Talvez, meus caros colegas, poderiam, à partir deste dia, me utilizar como modelo, como exemplo.
O tal grande conhecedor de culturas gerais e, por coincidência, professor de economia, olhou-me bem nos meus lindos olhos negros e disse : você que é negra, que estudou para estar aqui, que MERECE o seu lugar, gostaria que outros estudantes negros entrassem na UFRGS, através de cotas, sem MERECER como você ?
Eu, impressionada com profundidade da questão colocada, parei e refleti. Afinal, o caro pseudo-marxista revolucionario, tinha se tornado também historiador, sociologo, antropologo e adjacências. Talvez, ele fosse até mesmo jurista para entender realmete o que se deve ter direito ou não !
Olhei nos olhos do mocinho e aumentei o tom de voz e respondi. Não, não rodei as baiana ! Arriei os cablocos, como diria minha Mainha. Respondi ao ser que abusava do seu poder de professor para intimidar, mas… não conseguiu ! Respondi que era normal que eu MERECESSE estar na UFRGS. Sempre estudei em escola particular, pude viajar e aprender outras linguas e nunca precisei trabalhar e estudar. « Era normal » que eu estivesse na UFRGS, pois eu vinha de uma familia de classe média, que ja foi classe média alta, e que sempre deu prioridade (pois pode !) a minha formação, a minha educação. Porém, eu não achava normal o fato que, na escola onde estudei (foi a mesma durante 12 anos !), eu fosse uma das raras estudantes negras. Por coincidência, eu também era uma das raras estudantes negras do curso de Ciências Sociais da UFPE, dois anos antes. Talvez, por coincidência, também fosse normal que dos meus amigos negros, eu fui uma das unicas a entrar na universidade federal, melhor, em universidades federais. Falei que eu adoraria que também fosse normal ter outros colegas negros. Continuando no quesito normalidade, aproveitei para falar, melhor, para questionar o fato que, mesmo sendo negra, eu não era gaucha. São raros os nordestinos na UFRGS. Então, onde estavam o negros gauchos na universidade ?
Ah, esta pergunta serviu para outra revelação. No momento onde ele me perguntou minha posição como “estudante NEGRA”, tinha uma mãozinha que tinha levantado e falado: espera! Eu também sou negra!
A pessoa em questão era a Adriana Fonseca, que està junto com vocês nesta luta. Aproveito para agradecê-la pela autorização de citar o nome dela. A Adriana, no final, da minha intervenção, falou que, COMO NEGRA, também era a favor das cotas. Contudo, o grande pseudo-marxista revolucionario e que se acha ainda professor de economia (sinceramente ? tenho impressão que ele comprou o diploma ou não precisa urgentemente de terapia – para não abusar do tal poder) decidiu questionar a validade da afirmação do « eu também sou negra ». Ele olha para minha cara colega de curso e diz : você não é negra, você é tem misturas e bla bla bla bla! Adriana insiste afirmando sua negritude. Para mim, foi uma revelação, pois logo no Sul, onde existe a expressão « passou de branco, preto é », a Adriana, pode-se dizer que, não é branca.
O caro pseudo-marxista revolucionario e que se acha ainda professor de economia vendo que tinha comprado uma briga feia, pois além de estudantes, negras, sabiamos muito bem do que representavamos, tentou argumentar, mas sem muito sucesso.
Aproveito a ocasião para a agradecê-lo pelo “C” que ele me colocou. Este “C” destoa um pouco das minhas notas que sempre foram altas. Porém, guardei este « C » diferente, como um « C » de Coragem. Coragem de assumir minha negritude e nordestinidade onde quer que eu passe. Caro pseudo-marxista revolucionario e que se acha ainda professor de economia, soube que a sua pessoa anda fazendo palestras contra as cotas. Por isto, aconselho-o, sinceramente, de fazer o minimo que lhe pedem numa universidade PUBLICA, CUMPRIR SEU PAPEL DE ¨PROFESSOR e DAR AULAS DE ECONOMIA DE VERDADE. O dinheiro que alimenta este ilustre ser é de origem publica. Espero que ele lembre disto, ao menos, em suas aulas. Foras delas, é outra historia. Paguei o preço de ter tido « aulas » tão interessantes.
Eu posso imaginar a quantidade de alunos negros que foram alvos da mesmo tipo de questionamento. Porém, o que me leva a contar este caso somente agora? Medo? Receio? Não ! Foi o fato que, faz três anos, que eu acompanho as discussões sobre a politica de cotas, de afirmação positiva, através do forum de Gt Afirmativas. Foi com muito prazer e, sinceramente, deu uma saudade da porra (ops !), quando vi o que estava sendo feito ai!
Minha experiência na UFRGS, no Rio Grande do Sul, serviu de base para que pudesse ir à outro lugar. Foi nela que eu me dei conta que, além de mulher e negra, eu também era nordestina. Na UFRGS, me descobri mais uma vez, o que se chama diversidade, que eu era diferente, que eu trazia bagagens diferentes. Creio que isto serviu para muitos colegas (que sabiam do meu gêniozinho arretado) como também para mim, para ver que gente é gente onde quer que passamos.
Se hoje posso escrever para falar de um pseudo-marxista revolucionario e que se acha ainda professor de economia, é porque existem pessoas nesta intituição, que pensam diferente, que lutam e que desejam outros tipos de « normalidade ».
Minha gente, boa sorte ai, melhor, para todos nos que estamos nesta luta de promoção da diversidade. Estou do outro lado do oceano torcendo pela aprovação das cotas, mas felizmente, não estou sozinha!
Como diria uma canção, “a liberdade é meu axé de fala” e que bom ela também é o tantos outros que são negros, nem tão negros, mulheres, nem tão mulheres, nordestinos e não tão nordestinos para a construção de um Brasil NORMALMENTE DIVERSO!
Parabéns a todos pela grande conquista das cotas na UFRGS!! Finalmente o vestibular vai levar em conta as desigualdades socio-raciais e não mais irá maquiar os privilégios com esse falso mérito, criado e mantido por brancos das classes privilegiadas para selecionar brancos dessas mesmas classes! Eles podem derrubar quilombos e aldeias mas NENHUMA opressão pode durar para sempre!! Abaixo ao racismo pseudo-igualitário dos contra cotas!
Viva a diversidade cultural!!
Essa retórica “politicamente correta” tenta esconder o verdadeiro significado do termo “Cotas Raciais”. Na verdade é RACISMO puro, deslavado, nazista. Como é que pode, os “afro-descendentes” (pra ser politicamente correto), viram nazistas hehehe. Esse país é uma vergonha. Então um estudante de pele clara vai perder sua vaga na universidade para outro mais “moreno” que teve uma nota muito pior….. Grande estímulo esse. Sei que a maioria dos “morenos” defendem o sistema de cotas racistas pq querem “levar vantagem”. Mas, estão cavando a própria sepultura sem se darem conta. Sei de muita gente que vai deixar de contratar profissionais superiores “com mais melanina” por temerem estarem contratando um “paraquedista”. Ninguém gostaria de ser operado por alguém que não entrou numa faculdade por seus méritos e sim por “apadrinhamento”.
Para finalizar, o indivíduo que se utilizar desse sistema racista para “passar na frente” de outros mais capazes e determinados, não é digno de respeito, é mais um sacripanta sem valor como tantos que infestam esse país.