Universidade Federal de Santa Catarina define cotas para negros e estudantes carentes no vestibular

O Conselho Universitário da UFSC decidiu, em reunião realizada na
manhã desta terça-feira, reservar 20% das vagas, já a partir do próximo
vestibular, para estudantes oriundos de escolas públicas e 10% para
negros, também formados em colégios de caráter público.


Caso o
percentual de negros não atinja esse patamar, as vagas restantes serão
destinadas a jovens vindos de outros tipos de estabelecimentos de
ensino. Ao mesmo tempo, o Conselho garantiu cinco vagas para indígenas,
com o aumento de uma nova vaga a cada ano letivo. A decisão vigora
pelos próximos quatro anos, após o que poderá sofrer os ajustes que a
administração da instituição e os demais membros do Conselho
considerarem necessários.


“Destaco a maneira madura e serena
com que a questão foi conduzida por todos os envolvidos”, disse o
reitor da UFSC, Lúcio José Botelho, ao final do encontro, que teve a
participação de representantes do movimento negro, de comunidades
indígenas, de estudantes e da comunidade. Ele afirmou que houve
discordâncias em alguns pontos, mas ressaltou a unanimidade em relação
aos itens principais, que são as cotas para negros e estudantes
carentes. Ao sair da sala do encontro, o reitor e os membros do
Conselho foram aplaudidos pelos estudantes que aguardavam a decisão no
andar térreo da reitoria da UFSC.


Integrante do Conselho, o
estudante André Costa, acadêmico do curso de Administração da
universidade, disse que os alunos pleiteavam uma cota de 50% para
alunos originários de escolas públicas, mas considerou positiva a
decisão tomada. Mesmo com um projeto de lei sobre o tema tramitando na
Câmara dos Deputados, ele afirmou que a decisão da UFSC é definitiva,
uma vez que as universidades têm autonomia para deliberar sobre o
assunto. Entre as 57 instituições públicas de ensino superior no País,
a UFSC é a 17ª a adotar o sistema de cotas, de acordo com notícias
divulgadas ontem pela imprensa nacional.


O professor Marcelo
Henrique Tragtenberg, membro do Conselho de Ações Afirmativas e do
Conselho Universitário, que também participou do encontro, disse que no
vestibular os candidatos beneficiados pelas cotas vão se submeter aos
mesmos critérios de avaliação dos demais postulantes, como não zerar na
prova de inglês e nas questões dissertativas. Professor do Departamento
de Química, ele afirmou que cada curso, ao conhecer o número de vagas
que deverá destinar a estudantes oriundos das escolas públicas,
decidirá se cria novas turmas ou aumenta o número de alunos no turno da
noite. “Cada curso precisa se pensar”, destacou ele.


Tragtenberg
também disse discordar de alguns pontos do projeto em tramitação no
Congresso, sobretudo porque ele ignora a diversidade de características
sociais e étnicas de cada região do País e porque, ao levar em conta
apenas o ensino médio, “não considera o recorte sócio-econômico do
País”. Ao fazer um balanço a reunião, ele afirmou que “é muito bom
pensar com várias cabeças”.
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