Eles, os índios!?
Tupi-Guarani, e os Kaingang, do tronco lingüístico Jê, atualmente são os
principais grupos indígenas presentes no sul do Brasil. Ambas as etnias estão
entre as mais populosas do país: a etnia Kaingang soma ao todo 26.000 pessoas
espalhadas por quatro diferentes estados; por seu turno, os Guarani chegam a
mais de 36.000 pessoas. Existiam muitas outros grupos indígenas no cone sul da
América Latina nos tempos do contato, no entanto a maioria destes foram
exterminados: povos como os Charrua, os Minuanos, os Tapes e os Patos foram
vítimas da escravização e do genocídio potencializado por doenças e propagado
por guerras contra os invasores de suas terras, não sobreviveram como os
Guarani, e os Kaingang à violência estrutural da máquina colonial. Estes
últimos resistiram às ameaças do período colonial para enfrentarem os terrores
do pós-independência no qual comunidades inteiras foram assassinadas ou
arrancadas de suas terras através de um processo de branqueamento genocida que
"traria o progresso” patrocinado pelo Segundo Reinado.
os Guarani e Kaingang continuam sendo sumariamente marginalizados diante de
suas formas culturais. Ainda hoje a imensa maioria das pessoas de nossa
sociedade desconhece suas lutas e suas histórias, assim como sua existência
para além daquele índio histórico congelado no tempo, ainda que eles não
queiram crer que sejamos os mesmos portugueses que desceram daquelas caravelas
em 1500 ou os mesmos africanos que, tempos depois, eram vergonhosamente
trazidos em correntes por aqueles.
costumes e tradições milenares, tanto os Kaingang quanto os Guarani habitam suas
aldeias e, por vezes as cidades. São homens, mulheres e crianças que fazem
parte de uma sociedade pluriétnica que somente agora, depois de quinhentos anos
de contato, começa a compreender a riqueza e a profundidade de seus saberes
ancestrais para além dos preconceitos e superficialidades do racismo.
Por que vagas para indígenas na UFRGS?
O simples fato de estas etnias terem
sobrevivido a toda a matança e negação de sua cultura pelos europeus e seus
descendentes já faz com que tenham passado por um processo seletivo muito mais
severo que quaisquer provas de vestibular imagináveis. Sobrevivente desse
processo que exterminou centenas de etnias, os Guarani e os Kaingang, a custa
de lágrimas, vidas e sangue, sofrendo todos os tipos de preconceito, habitam
este país que, erguido sobre suas terras e seus mortos, chamaram Brasil. O
mínimo a ser feito é reconhecer a importância ética e imprescindível para esta
nação, o valor de suas tradições e o direito de tomar parte nas instituições
brasileiras, naquelas em que estes queiram participar.
A universidade para os indígenas
Historicamente as políticas da sociedade brasileira foram
formuladas em conluio com o quase total desconhecimento da riqueza sociocultural
dos povos originários habitantes deste território. É de senso comum a constante
reafirmação da atual inexistência dos
indígenas, ainda que, nos dias de hoje em lugares como o Mato Grosso do Sul e
no Tocantins, são muitas as ações para efetivá-la.
No Rio Grande do
Sul, muitos indígenas, desapossados de suas terras, vivem numa condição
degradante, sem espaço para a reprodução plena do seu modo de ser. Para
garantirem a sobrevivência das futuras gerações, está colocado a estas
populações o desafio de aprender como lidar com saberes que não são próprios de
sua tradição – jurídicos, lingüísticos, técnicos, etc – que poderiam
auxiliá-los em suas lutas por uma vida mais digna e plena da forma como estes
compreendem esta amplitude e dignidade.
Os indígenas para a
universidade.
Quando os indígenas observam algo no
mundo, eles o fazem de uma forma muito distinta da nossa, pois seus
condicionamentos culturais fazem com que percebam e pensem de um modo que lhes
é peculiar. Durante muito tempo os brancos viram a diferença em termos de
inferioridade; agora se sabe que aquela inferioridade não estava no diferente em si, mas sim nos olhos e nos
constrangimentos culturais daqueles que observavam.
Os povos ameríndios são também
portadores de sabedorias milenares que vão da ecologia, passando pelos saberes
políticos, medicinais e outros, relacionados
a suas formas lingüísticas: a sua eloqüência e oralidade. Os
índios, na universidade, certamente contribuirão para a diversificação e
ampliação do conhecimento científico, de maneiras que no momento só podemos
imaginar: Basta que não cometamos a injustiça de avaliá-los por nossas medidas,
por saberes que são tão desconhecidos para eles quanto as línguas deles o são
para os nossos ouvidos.
A diversidade certamente fará
muito bem à universidade!! Mobilize-se pelas vagas para
indígenas e cotas para negros na UFRGS já!!