”O Brasil precisa ser multicultural”

Publicado no website da Universidade de Brasília em 20/06/2007

Para socióloga da etnia indígena Kaingang, políticas públicas de afirmação étnica só serão efetivas quando Estado e a sociedade brasileira compreenderem sua real importância

 

 

Das 5,8 milhões de pessoas formadas

nas universidades apenas 0,1%

é de origem indígena.

 

Pai de uma universitária matriculada em Direito e Nutrição, o índio Xavante Jeremias Tsibödöwapre, tem severas críticas à atuação do Ministério da Educação (MEC) no que diz respeito à educação indígena. Ele afirma que, nas aldeias, o governo está omisso. “Nossos professores estão sem perspectiva de melhorar a educação e o MEC deveria estar presente lá, na ponta, porque nossas comunidades são as maiores prejudicadas”, destaca. O manifesto foi feito na Audiência Pública sobre a Ausência de Políticas Públicas Efetivas para a Educação Superior Indígena, realizada na manhã de segunda-feira, 28 de novembro, no auditório da Escola Superior do Ministério Público da União em Brasília.

A queixa dele é reforçada pela socióloga Azelene Kaingang, da etnia indígena Kaingang. Ela considera que o Estado brasileiro precisa se reconhecer multicultural para que suas políticas contemplem todas as parcelas da população. “A política da educação superior precisa dialogar com as nossas diferenças também. Isso ajudará a evitar o processo de ‘embranquecimento’ das universidades e do saber”, ressalta. Na avaliação da socióloga, muitos dos problemas de abandono de cursos podem ser resolvidos com adaptações dos dois lados, tanto por parte dos indígenas quanto das instituições de ensino superior. 

Para Azelene, políticas devem contemplar todas as raças

 

 

Para Azelene, políticas

devem contemplar

todas as raças

 

“Não somos só nós que precisamos nos preparar para acessar às universidades. Elas também precisam ser preparadas para nos entender sem preconceitos nem discriminação, respeitando nossos processos internos e nosso tempo individual”, alerta. Azelene denuncia que muitos professores não entendem os estudantes indígenas, que acabam sendo discriminados por conta dessa convivência. O resultado desse processo é apresentado por Francisca Novantino, representante indígena no Conselho Nacional de Educação.

INTERESSES – De acordo com Francisca, os índios conseguiram, em 2000, 100 vagas para instituições de ensino superior federais e particulares. Dessas, apenas 50 foram ocupadas e somente 15 estudantes concluíram seus cursos. “A maioria dos desistentes alega ter vivenciado problemas tanto de preconceito quanto de cobrança de retorno por parte de suas etnias”, revela.

Francisca considera que as iniciativas do Ministério da Educação (MEC) são tímidas e que apenas no governo de Luiz Inácio Lula da Silva se começou a discutir a inserção indígena no ensino superior. “Durante os oito anos de Fernando Henrique Cardoso, tentamos levantar essa discussão, mas eles só queriam saber da educação básica. Temos uma grande demanda não garantida”, reclama.

Ela afirma que as comunidades desejam a formação em áreas variadas (88% em Ciências Humanas e Sociais; 8% em Ciências Biológicas e da Saúde e 4% em Exatas) para que esses indígenas formados possam atuar na defesa de suas etnias. “Precisamos de dispositivos para garantir que quem entrar o fará pelo critério coletivo e não individual. Não queremos apenas ter índios formados, mas  atuantes para melhorar a vida de suas tribos”, reforça Francisca.

 Fonte:  UnB Agência. Fotos: Camila Martins/UnB Agência.

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Desigualdade racial e desempenho escolar

Publicado na web-page Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira em 16/09/2003

O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) tem revelado um quadro da qualidade da educacional nada confortador e um aumento das desigualdades no sistema de ensino, especialmente a racial. A primeira constatação é que os alunos negros são excluídos prematuramente da escola. A participação das crianças negras na última série do ensino médio representa a metade da registrada na 4a série do ensino fundamental, enquanto os brancos, que somam 44% dos alunos ao final do primeiro ciclo do fundamental, totalizam 76% na 3a série do ensino médio.

Os alunos negros que sobrevivem na escola são vítimas de uma sistemática queda de desempenho. Entre 1995 e 2001, a diferença no desempenho escolar na prova de leitura dos estudantes negros, em relação aos brancos, aumentou de 20 para 26 pontos. O estudo mostra, ainda, que, em leitura, na 4a série do ensino fundamental, 67% dos estudantes negros apresentam desempenho classificado como “crítico” e “muito crítico” contra 44% de alunos brancos. Seríamos tentados a entender a diferença de desempenho entre brancos e negros como resultado de um fenômeno de longa duração – a inserção desigual e discriminada das populações negras na sociedade nacional, após a abolição da escravidão. Certamente, há uma estreita relação entre a pobreza (econômica e educacional) e a percepção e representações sociais sobre a cor do povo brasileiro.

No entanto, os dados revelam que, mesmo entre estudantes de escolas particulares, portanto com níveis socioeconômicos similares, o desempenho entre brancos e negros não é igual. Na 4a série, em Língua Portuguesa, alunos negros alcançam uma pontuação de 179, na escala de desempenho, e os brancos de 228 pontos.

Ainda que insistíssemos em uma explicação centrada nas desvantagens historicamente acumuladas pelas famílias negras, um certo déficit de “capital cultural” expresso pela baixa escolaridade de bisavós, avós e pais, teríamos grande dificuldade de entender os dados do Saeb relativos à escolaridade da família. Alunos brancos, matriculados na 4a série (rede pública e particular) – filhos de mães com escolaridade até a 8a série do ensino fundamental – obtiveram média de desempenho de 175 pontos em Matemática, contra uma média de 160 de estudantes negros filhos de mães com a mesma escolaridade. Essa diferença de 15 pontos entre as médias de desempenho aumenta para 38 quando comparamos brancos, com mães de escolaridade média ou superior, com alunos negros, com mães de mesma escolaridade.

Não há como reduzir o campo explicativo dessa desigualdade educacional às variáveis socioeconômicas. Certamente que elas são um componente importante do problema mas não o explica totalmente. O que salta à vista é a reprodução de condições hostis aos alunos negros nas escolas brasileiras que atuam permanentemente para o agravamento das diferenças de desempenho escolar desse segmento. É preciso enfrentar, sem hipocrisia, a constatação de que a escola não é tão eficaz para os negros quanto é para os brancos. Essa evidência define os contornos de um problema a ser diagnosticado e resolvido: as desigualdades raciais são especificamente responsáveis pelas desigualdades educacionais.

Muitas são as hipóteses a serem consideradas sem reservas e sem preconceitos. Devemos nos perguntar se os conteúdos e os métodos praticados nas escolas são compatíveis com as especificidades culturais e com os anseios de cidadania da população escolar negra. Os dispositivos legais em vigor indicam que não. A partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o Ministério da Educação definiu, nos Parâmetros Curriculares e nos Parâmetros em Ação, o tema transversal da diversidade cultural, pelo qual pretende atuar no sentido de dar um atendimento adequado às escolas para que possam praticar a pluralidade que compõe a cultura brasileira. Sabemos que essa diretriz é largamente ignorada nas práticas cotidianas das escolas no Brasil. É também significativo o reconhecimento governamental de que a história e a cultura negra no Brasil estão ausentes na formação dos cidadãos brasileiros e, por isso mesmo, promulgou a lei que tornou essas matérias obrigatórias em todas as escolas e em todos os níveis de ensino. Implementar essa legislação em vigor é um desafio que está sendo enfrentado pelo Ministério da Educação que conta, para tanto, com o apoio do Ministério da Cultura, por meio da  Fundação Cultural Palmares. A promoção da cultura negra nas escolas brasileiras é uma das ações prioritárias para o combate às desigualdades raciais e educacionais nas escolas, porquanto o conhecimento das diferenças traz consigo a possibilidade de um novo hábito de convívio, mutuamente respeitoso entre alunos de diferentes cores e culturas.

Para além de conteúdos e métodos, não podemos perder de vista as relações sociais dentro da escola e no seu entorno, nas quais se reproduzem práticas discriminatórias contra alunos negros, configurando um ambiente de hostilidade. É preciso investigar as relações entre professores e alunos, entre os alunos, entre as famílias e as escolas. Os estudos indicam que aí se reproduz um racismo difuso, silencioso e habitual, fundamentado na cristalização de representações negativas do estudante negro. Não é mais possível esconder que a expectativa do fracasso pesa como permanente suspeição contra o negro. Conclui-se, pois, que qualquer ação de enfrentamento da desigualdade educacional deve ser acompanhada de políticas eficazes de combate ao racismo.

 * Carlos Henrique Araújo é diretor de Avaliação da Educação Básica do Inep/MEC e Ubiratan Castro de Araújo é presidente da Fundação Cultural Palmares/Ministério da Cultura

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“Discriminação sutil” tira aluno negro da universidade

Publicado pela Folha Online em 13/10/2001.

Em qualquer classe social, taxa de sucesso do branco é maior; cursos de elite formam menos de 4% de pretos.

A desigualdade social não
explica sozinha o número
reduzido de pretos no ensino superior. A taxa de sucesso
dessa população no vestibular da
Fuvest é mais baixa que a dos
brancos, independentemente da
classe social.
Entre os estudantes que pertencem à classe B, por exemplo, a taxa de sucesso dos pretos é de
4,9%, enquanto a dos brancos é
de 7,4% (veja quadro ao lado).
Nas três carreiras mais disputadas da Fuvest -com maiores notas de corte-, os pretos compõem uma pequena parcela dos
aprovados. No curso de medicina,
eles são 0,2% do total, em jornalismo, 4%, e, em computação, nenhum preto classificou-se.
Os dados são da pesquisa dos
sociólogos Antonio Sérgio Guimarães, 52, e Reginaldo Prandi,
55, da USP, baseada no questionário preenchido pelos 141.253
inscritos no vestibular de 2000.
Para Guimarães, "existe uma
discriminação sutil que faz com
que o aluno negro seja desestimulado. Ela está na escola, na família,
na mídia, e é internalizada".


Cursos de elite

Os cursos superiores considerados de elite no Brasil têm menos
de 4% de estudantes pretos, entre
calouros e formandos, segundo
levantamento feito pela Folha.
No Instituto Rio Branco, em
Brasília, responsável pela seleção
e treinamento dos diplomatas
brasileiros, há dois alunos pretos,
que são 3,7% do corpo discente.
No primeiro ano de medicina
da USP, há dois alunos pretos,
que representam 1,3% do total.
No curso de administração da
Fundação Getúlio Vargas, eles são
2% dos calouros e formandos.
Os dados foram obtidos com
aplicação de questionário elaborado pela Folha. Foram utilizados
os mesmos critérios do IBGE, em
que a própria pessoa define sua
raça. O instituto usa o termo negro para referir-se ao somatório
de pretos e pardos.




Sistema de cotas

A maioria dos alunos dos três
cursos são contra a proposta de
cotas para negros em universidades públicas.
No Instituto Rio Branco, 51%
são contra a reserva de vagas no
ensino superior, 42% são a favor e
o restante não respondeu.
A quase totalidade -99%-
dos alunos de medicina da USP e
de administração da FGV
-87%- é contra a implantação
de cotas para a população negra
nas universidades públicas.
Para o sociólogo Reginaldo
Prandi, "as cotas são um caminho
artificial, mas necessário". A desvalorização do negro em nossa
sociedade só pode ser revertida
através da diferenciação de oportunidades na educação.
Já seu colega Antonio Sérgio
Guimarães acredita que o sistema
de cotas seria uma "solução muito
radical". "Correríamos o risco de
agravar a sensação de incapacidade do negro", diz.
O governo tem evitado esse debate e optou por investir na capacitação da população negra. O ministro da Educação, Paulo Renato
de Souza, anunciou recentemente
negociação de financiamento de
US$ 10 milhões com o BID (Banco
Interamericano de Desenvolvimento) para a criação, a partir de
2002, de cursos pré-vestibulares
gratuitos para negros e carentes.

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Desigualdade racial começa na pré-escola

  

publicado na Folha Online em 13/10/2001.

O índice de repetência de crianças negras é maior que das brancas desde a pré-escola, segundo
pesquisa realizada pela psicóloga
Fúlvia Rosemberg, da Fundação
Carlos Chagas.
Baseada na Pnad (Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio), do IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística), a pesquisa mostra que, das crianças de
sete anos ou mais que ainda estão
na pré-escola, 63,5% são negras
-pretas ou pardas-, enquanto
36,5% são brancas. Segundo a
pesquisadora, a retenção de alunos negros também é maior no
ensino fundamental.
Entre os alunos que cursam a
pré-escola durante a época considerada normal -com até seis
anos de idade- 43,1% são negras
e 56,3% brancas, situação proporcional à composição racial da população brasileira.
A pesquisadora atribui a desigualdade entre raças no desempenho escolar
aos fatores socioeconômicos e ao que chama de "pessimismo racial", que
significa descrença na possibilidade de sucesso do aluno negro.
Para Rosemberg, uma ideologia
racista é transmitida dentro da
própria escola. "A criança negra é
considerada, de antemão, o candidato mais provável à repetência
por todo o aparato educacional
-do professor ao diretor e ao secretário de Educação."
A coordenadora de educação
infantil do MEC, Stela Maris Oliveira, discorda que exista racismo
por parte no sistema educacional,
mas julga "preocupantes" os dados sobre retenção escolar por raça. "Todos os profissionais da
área devem ficar atentos para não
deixar que suas concepções e valores pessoais interfiram na avaliação que fazem das crianças."
Fatores socioeconômicos também foram levados em consideração pela
pesquisa para justificar o alto índice de repetência de crianças negras
na pré-escola. Segundo Fúlvia Rosemberg, o ensino oferecido a essa
população, majoritariamente pobre, é sempre de qualidade inferior e,
muitas vezes, improvisado. "Nosso modelo de expansão educacional
permitiu, por exemplo, que nas áreas mais pobres do país, pessoas sem
formação específica se tornassem professoras da pré-escola."
O fundador do curso pré-vestibular para negros e carentes Educafro, frei David Santos, acredita
que o negro tem dificuldade em
aprender aquilo com que não se
identifica. "O ensino deve partir
da cultura do povo, estar ligado à
sua realidade. Os conteúdos que
são passados nas escolas brasileiras são comprometidos com
ideais da elite e eurocentrismo."
Para o sociólogo Antônio Sérgio
Guimarães, 52, da USP, a desigualdade de oportunidades não
basta como explicação. "Muitos
estudantes negros sentem que
aquele mundo não é deles. Não há
filósofos nem reis negros nos livros didáticos", diz o professor,
organizador de "Tirando a Máscara", compilação de estudos sobre o negro no Brasil.
(CM)

  

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O movimento docente e a proposta de cotas para negros no ensino superior

Introdução:
as classes sociais e a diversidade cultural e política

Ao
propor o estudo das relações sociais entre as classes,
relações essas que são responsáveis pelo movimento estrutural
de mudança social nas sociedades capitalistas, Marx
evidencia em sua obra que entre as determinações da
constituição das classes estão os relacionamentos intra-classe,
ou seja, que ocorrem entre os próprios trabalhadores
ou entre os próprios capitalistas, e que podem ou não
levar à emergência da consciência de classe “para si”.

Classificar, portanto, as classes objetivamente, de
acordo com a sua participação na divisão social do trabalho
e com a propriedade sob o seu controle não é a única
maneira de explicitar as dimensões dos grupos humanos.
O método marxista de investigação exige o estudo rigoroso
das situações concretas visando a saturação histórica
do existente, sem apriorismos ou tipificações. Entretanto,
para recorrermos a uma lição de um estudioso marxista
da realidade brasileira como o professor Francisco de
Oliveira, “sem dúvida, existe um problema fundamental
na utilização da teoria marxista das classes sociais.
Frequentemente, nesta utilização, a esfera da produção
é privilegiada, isto é, a infra-estrutura como determinante,
enquanto a política é relegada ao plano longínquo da
superestrutura, como um simples reflexo” (Oliveira,
1987: 11).

Como procuramos demonstrar no artigo “Ações afirmativas
e cotas do ângulo do marxismo”, publicado no número
29 da revista Universidade e Sociedade, o próprio
Engels assumiu a responsabilidade dele e de Marx por
alguns exageros dos seus seguidores:

“Marx
e eu temos, nós próprios, que ser culpados, em parte,
de que, por vezes, seja pelos mais jovens dado mais
peso ao lado econômico do que o que lhe cabe. Nós tínhamos
de acentuar, face aos adversários, que o negavam, este
princípio principal e nem sempre havia tempo, lugar
e oportunidade para dar a devida importância aos restantes
momentos participantes na ação recíproca”. (Marx e Engels,
1983: 549) 

Não é recomendável, portanto, deduzirmos de um modelo
geral abstrato, ou exclusivamente das condições econômicas,
as característica particulares das relações sociais
que ocorrem em uma determinada sociedade. Ao contrário,
deve-se proceder a uma investigação empírica sobre as
relações sociais efetivas e como se constituíram historicamente.

Apesar de o capitalismo gerar a estratificação econômica
e política nas sociedades modernas, na vida cotidiana
dos indivíduos se desenvolvem representações singulares
sobre a vida e sobre o outro, dentre as quais podemos
encontrar as formas de classificação preconceituosas
que levam aos tratamentos discriminatórios. As divisões
e barreiras que separam as faixas etárias, gêneros,
formas de orientação sexual, grupos étnicos e raciais,
por mais imaginários que sejam provocam resultados materiais,
objetivos, sobre as posições que serão ocupadas pelos
indivíduos e grupos humanos na sociedade.

Em outras palavras, os relacionamentos entre os humanos que
formam os agrupamentos que se constituem, se reconhecem
e são reconhecidos como classes sofrem a influência
de fatores ideológicos e políticos, como é o caso da
discriminação étnica e racial. Para recordarmos alguns
exemplos marcantes, basta pensarmos na atitude de alguns
segmentos de trabalhadores sindicalizados existentes
nos Estados Unidos ou na Europa, atualmente, que discriminam
racialmente os trabalhadores imigrantes, em razão das
alterações que provocam nas condições competitivas nos
mercados de força de trabalho nacionais. Um outro exemplo
da influência das relações étnicas ou raciais nas relações
sociais de classe foi a discriminação contra os empresários
considerados de origem judaica por parte dos empresários
alemães que apoiaram o regime nazista.

Como hipótese podemos até supor que embora não haja
antagonismo econômico entre os membros de uma mesma
classe, em muitas sociedades contemporâneas a existência
de um número insuficiente de postos de trabalho em virtude
do desenvolvimento tecnológico pode gerar uma disputa
entre os próprios trabalhadores, que toma a forma ideológica
e política de animosidade nas relações entre os grupos
humanos que se consideram de raças, etnias e culturas
diferentes.

I
– A formação das classes trabalhadoras e a questão
racial no Brasil

Na divisão social do trabalho no Brasil historicamente
as ocupações e a remuneração da força de trabalho não
são definidos exclusivamente pela relação mercantil
de compra e venda de mercadorias, como seria de se esperar
em uma sociedade de mercado, mas, entre outros fatores,
a partir da cor ou raça do trabalhador.

Para entendermos esse fenômeno é preciso que seja levado
em consideração que as classes trabalhadoras se constituem
no Brasil após a dissolução do regime de trabalho escravista.
Como também nos explica o professor Francisco de Oliveira
ao tratar da constituição das classes sociais na Bahia,
“a questão negra só pôde se pôr como diferença a partir
do momento em que a divisão social do trabalho trabalha
a cor como determinante das diferenças particulares
entre uma força de trabalho geral que se põe para o
processo de acumulação de capital”. (Oliveira, 1987:
113).

Vamos discutir um pouco melhor sobre o relacionamento
de brancos e negros em nossa sociedade. Em qualquer
das instâncias de poder e de prestígio levadas em conta
atualmente os negros ocupam as posições que lhes são
destinadas previamente. A sociedade brasileira se acostumou
com o tratamento diferenciado reservado para os negros,
pois assim os tornam úteis para 
a realização dos trabalhos considerados sujos,
pesados e de baixa remuneração.

Ao utilizarmos, então, os critérios de diferenciação
social próprios das sociedades modernas como 
renda, propriedade, escolarização, prestígio
das ocupações, caráter manual ou intelectual do trabalho,
forma e valor da remuneração, local de trabalho, posição
na divisão social do trabalho, participação nas instâncias
estatais de poder e estilo de vida, com maior ou menor
acesso aos bens e serviços de consumo, ao longo de toda
a história da sociedade brasileira vamos encontrar os
indivíduos considerados negros como mais suscetíveis
de se posicionarem nas piores posições.

Para que isso ocorra na prática foi preciso que se desenvolvessem
mecanismos de identificação, muitas vezes incorporados
pelos próprios negros, como a idéia de que os negros
são bons no esporte, na dança, na música 
popular, na culinária, são fortes para os trabalhos
braçais, ao mesmo tempo em que são indisciplinados para
aquelas atividades que exigem paciência, concentração,
persistência, inteligência e racionalidade. Para o pensamento
racista estas últimas capacidades seriam mais adequadas
aos europeus e seus descendentes considerados brancos.

No Brasil a discriminação dos trabalhadores cuja cor
da pele é considerada mais escura levou ao chamado branqueamento
da força de trabalho, inclusive por meio de políticas
estatais de incentivo à importação da mão-de-obra imigrante
européia. Consciente ou inconscientemente, muitos trabalhadores
tiveram, muitas vezes, que optar pela não-identificação
como negros, identificando-se e sendo identificados
como pardos, morenos etc., para que fosse evitada a
sua alocação em uma posição desprestigiada da divisão
social do trabalho.

Ao inserir-se na divisão social do trabalho capitalista
no Brasil, o trabalhador negro não é percebido apenas
como portador da mercadoria força de trabalho, mas sim
como um negro, ex-escravo, inferior, incapaz, indolente,
sem capacidade de poupança, inapto para a competitividade
do mercado. Por isso até hoje persiste entre os trabalhadores
negros a tendência de que sua remuneração seja inferior
à dos trabalhadores não-negros, como apontam a maioria
das pesquisas sobre o tema. É claro que tendo como última
alternativa a marginalização e a exclusão total os trabalhadores
negros toleram essa sobre-exploração de sua força-de-trabalho.
Para recorrermos a um outro estudioso que assume a orientação
metodológica marxista, o professor Clóvis Moura, podemos
dizer que

“O
negro urbano brasileiro, especialmente do Sudeste e
Sul do Brasil, tem uma trajetória que bem demonstra
os mecanismos de barragem étnica que foram estabelecidos
historicamente contra ele na sociedade branca. Nele
estão reproduzidas as estratégias de seleção estabelecidas
para opor-se a que ele tivesse acesso a patamares privilegiados
ou compensadores socialmente, para que as camadas brancas
(étnica e/ou socialmente brancas) mantivessem no passado
e mantenham no presente o direito de ocupá-los. Bloqueios
estratégicos que começam no próprio grupo familiar,
passam pela educação primária, a escola de grau médio
até a universidade; passam pela restrição no mercado
de trabalho, na seleção de empregos, no nível de salários
em cada profissão, na discriminação velada (ou manifesta)
em certos espaços profissionais; passam também nos contatos
entre sexos opostos, nas barreiras aos casamentos interétnicos
e também pelas restrições múltiplas durante todos os
dias, meses e anos que representam a vida de um negro”.
(Moura, 1988: 8)

Em
sua obra “A integração do negro na sociedade de classes”,
o saudoso professor Florestam Fernandes pesquisou exaustivamente
o processo de constituição da sociedade de classes em
São Paulo após a Abolição do regime de trabalho escravo
no Brasil, em 1888, e chegou a algumas conclusões que
considero esclarecedoras sobre esse processo de barragem
econômica, social, política e cultural dos negros em
nossa sociedade:

“Perdendo
sua importância privilegiada como mão-de-obra exclusiva,
ele (o negro) perdeu todo o interesse que possuíra para
as camadas dominantes. A legislação, os poderes públicos
e os círculos politicamente ativos da sociedade mantiveram-se
indiferentes e inertes diante de um drama material e
moral que sempre fora claramente reconhecido e previsto,
largando-se o negro ao penoso destino que ele estava
em condições de criar por si e para si mesmo.” (Fernandes,
1978: 18)

Sobre a competição instalada pela classe dominante brasileira
entre ex-escravos e imigrantes europeus, escreve Florestan
Fernandes:

“No
período em que as famílias dos fazendeiros paulistas
começam a fixar residência em São Paulo e em que se
acentua a diferenciação do sistema econômico da cidade,
o liberto defrontou-se com a competição do imigrante
europeu, que não temia a degradação pelo confronto com
o negro e absorveu, assim, as melhores oportunidades
de trabalho livre e independente (mesmo as mais modestas,
como a de engraxar sapatos, vender jornais ou verduras,
transportar peixe ou outras utilidades, explorar o comércio
de quinquilharias etc.) Quando se acelera o crescimento
econômico da cidade, ainda nos fins do século XIX, todas
as posições estratégicas da economia artesanal e do
pequeno comércio urbanos eram monopolizadas pelos brancos
e serviram como trampolim para as mudanças bruscas de
fortuna, que abrilhantam a crônica das famílias estrangeiras…”
(Fernandes, 1978: 19)

“Em
Suma, a sociedade brasileira largou o negro ao seu próprio
destino, deitando sobre seus ombros a responsabilidade
de reeducar-se e de transformar-se para corresponder
aos novos padrões e ideais de homem, criados pelo advento
do trabalho livre, do regime republicano e do capitalismo.”
(Fernandes, 1978: 20)

Segundo o professor Florestan, para os negros o resultado
desse processo histórico de nascimento da sociedade
de classes gerou a sua exclusão social, uma vez que

“…O
negro e o mulato foram eliminados das posições que ocupavam
no artesanato urbano pré-capitalista ou no comércio
de miudezas e de serviços, fortalecendo-se de modo severo
a tendência a confiná-los a tarefas ou ocupações brutas,
mal retribuídas e degradantes… O impacto da competição
com o “estrangeiro” foi aniquilador para o negro e o
mulato
, porque eles não contavam com elementos:
seja para resguardar as posições relativamente vantajosas,
já adquiridas; seja para concorrer nas sucessivas redistribuições
das oportunidades econômicas entre os grupos étnicos
concorrentes…” (Fernandes, 1978: 26)

II
– O movimento docente e a adoção de cotas para negros

Os
processos sociais expostos acima devem ser levados em
consideração ao discutirmos se o movimento docente deve
ou não reivindicar cotas para negros no ensino superior.
Penso que ficou demonstrado, graças aos argumentos emprestados
de alguns estudos orientados metodologicamente pelo
pensamento de Marx, como os cidadãos considerados negros
foram alijados do acesso às oportunidades, mesmo que
restritas, franqueadas aos segmentos não-negros da força
de trabalho no Brasil. Trata-se, agora, de discutirmos
como os docentes de ensino superior e suas entidades
representativas podem contribuir para a alteração das
situações de discriminação racial e exclusão social
apontadas. E esta, ao meu ver, deixa de ser uma questão
teórica ou metodológica, para se transformar em uma
questão de valores éticos e morais que implementamos
ou não através da nossa prática pedagógica e política.

Politicamente,
acredito que afirmar a existência de racismo no interior
das próprias camadas sociais de não-proprietários de
capital não inviabiliza uma potencial unidade classista.
Por outro lado, dificilmente tal unidade pode ocorrer
se ignorarmos as diferenças étnicas, de gênero, de aparência
física, etárias e de orientação sexual entre os trabalhadores.


a partir do reconhecimento da discriminação racial,
sofrida por uma parte considerável das camadas trabalhadoras
em nosso país, poderemos trabalhar contra os efeitos
provocados por tal discriminação, dentre os quais estão
as dificuldades de escolarização dos trabalhadores negros,
que nos levam à proposição de medidas práticas como
a adoção de cotas, por exemplo, que comecem a romper
imediatamente com as barreiras impostas à ascensão social
vertical dos negros em nossa sociedade.

Reconheço
que o engajamento do ANDES em favor das políticas afirmativas
é problemático pelo menos por dois motivos: 1) Como
abraçar uma reivindicação que contempla efetivamente
a demanda de um segmento que talvez componha menos de
1% de sua base? 2) Como abraçar uma bandeira de lutas
que contraria a ideologia predominantemente meritocrática
de sua base?

Isso
para não mencionarmos que em uma época de restrição
do investimento estatal no ensino público as disputas
pelas posições de docente e discente no sistema universitário
assume também o caráter de uma competição interétnica,
uma vez que pais e professores majoritariamente brancos,
consciente ou inconscientemente, atuam para reservar
as melhores posições para os seus alunos e filhos, a
princípio melhor treinados para a disputa meritocrática.
Como os negros estão fora do sistema universitário acabam
sendo derrotados nas suas pretensões de ingresso na
universidade.

Acredito
que as cotas são combatidas na universidade também em
virtude desta competição interétnica mascarada pela
ideologia do mérito, que hipocritamente esconde que
a idéia de mérito na universidade frequentemente é contrariada
por um vestibular que premia aqueles que se encontram
nas posições sócio-econômicas e culturais mais vantajosas,
e é desmentida pela prática do favor e do compadrio
que muito influenciam no ingresso na pós-graduação,
na concessão de bolsas de pesquisa e no ingresso e ascensão
na carreira docente.

Defendo
a proposta segundo a qual o movimento dos docentes deve
tomar para si uma bandeira de luta dos mais explorados
entre os explorados, superando assim a pressuposição
cômoda de que todos são igualmente explorados e oprimidos
e de que só a emancipação de todos poderá resultar na
emancipação de cada qual.

O
ANDES pode assumir, ao meu ver, o papel de intelectual
coletivo que contribui para a educação dos próprios
educadores. A entidade deve, ao meu ver, priorizar nos
seus debates a reeducação dos membros de sua base, os
professores universitários, para que superem os preconceitos
ideológicos, como é o caso do pensamento meritocrático
e hierarquizador das diferenças sociais, para não mencionarmos
a persistência do preconceito e da discriminação racial
nos meios universitários, que são hoje as maiores barreira
para a efetivação de medidas educativas de reparação
em favor dos cidadãos negros.

Conclusão

Como
o Andes já é reconhecido pelo vigor como defende propostas
educativas que se confrontam com o caráter excludente
da sociedade capitalista no Brasil, assumir a bandeira
das cotas para negros será mais um capítulo na história
do compromisso do Sindicato com a proposta de uma educação
emancipadora, pautada no diálogo entre os representantes
das diferentes etnias, raças, classes, gêneros, comportamentos,
religiões, idades, aparências físicas etc… Assim,
a Universidade  brasileira
realizará a sua vocação democrática, assimilando as
demandas legítimas dos agentes de dentro e de fora do
ambiente universitário.

Para concluir com a recordação da pesquisa do professor
Florestan Fernandes mencionada acima, gostaria de citar
um raciocínio crítico contra a falta de políticas públicas
de inclusão do cidadão negro na ordem social capitalista:

“Sem
as garantias de reparações materiais e morais escrupulosas,
justas e eficazes, a Abolição equivalia – nas zonas
de vitalidade da lavoura cafeeira – a condená-lo à eliminação
no mercado competitivo de trabalho ou, no mínimo, ao
aviltamento de sua condição, como agente potencial de
trabalho livre. Longe de equipará-lo ao trabalhador
assalariado branco, estrangeiro ou nacional, expunha-o
fatalmente de modo previsível e insanável, ao desjustamento
econômico, à regressão ocupacional e ao desequilíbrio
social”. (Fernandes, 1978: 43)

Por
que não iniciarmos agora, mesmo com 115 anos de atraso,
as reparações materiais, morais, escrupulosas, justas
e eficazes devidas aos cidadãos negros?


Referências

FERNANDES,
Florestan. A integração do negro na sociedade de
classes / Vol 1 e 2
. São Paulo, Ática, 1978.

GUIMARÃES,
Antônio S. Alfredo. Racismo e anti-racismo no Brasil.
São Paulo, Editora 34, 1999. 

LEFEBVRE,
H. “Estrutura social: a reprodução das relações sociais”.
In: FORACCHI, M.M. e MARTINS, J.S. – (Orgs.) – Sociologia
e Sociedade
. São Paulo, Livros Técnicos e Científicos,
1975, pp. 219-252.

MARX,
K. e ENGELS, F. Obras escolhidas. Tomo III. Lisboa,
Edições “Avante!, Moscou, Edições Progresso, 1983.

MOURA,
Clóvis. Sociologia do negro brasileiro. São
Paulo, Ática, 1988.

MUNANGA,
Kabengele. “O preconceito racial no sistema educativa
brasileiro e seu impacto no processo de aprendizagem
do “alunado” negro”. In: AZEVEDO, José Clóvis de /
GENTILI, Pablo / KRUG, Andréa / SIMON, Cátia. Utopia
e democracia na educação cidadã.
Porto Alegre,
Ed. Universidade/UFRGS/Secretaria Municipal de Educação,
2000.

OLIVEIRA,
Francisco. O elo perdido – Classe e identidade
de classe
. São Paulo Brasiliense, 1987.

PRAXEDES,
Rosângela R. e PRAXEDES, Walter. “Ações afirmativas
e cotas do ângulo do marxismo”. Revista Universidade
e Sociedade
, Ano XII, n. 29, março de 2003.

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Ao Conselho Universitário da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Nós membros da sociedade brasileira, que lutamos contra o racismo e por
uma sociedade mais justa, abaixo assinamos pela implementação das Cotas
raciais e sociais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
e que comece a vigorar já no vestibular de 2008, como reparação mínima
aos anos de opressão. Nesta instituição em que há apenas dois
professores negros, não há indígenas estudando e o acesso às pessoas de
baixa renda é mais difícil; tendo em vista que concurso vestibular, da
maneira que está, não é o método mais eficiente de avaliação e seleção.

Assine nosso abaixo assinado on-line

Ou se precisar de mais informações leia os demais textos de nosso site e em seu banco de textos 

Posted in Geral | Comments Off on Ao Conselho Universitário da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

A UFRGS é uma das universidades mais segregadas racialmente em todo o planeta!

A UFRGS é
uma das universidades mais segregadas racialmente em todo o planeta!

Vivemos um
verdadeiro Apartheid!

Nós nos
envergonhamos disso!

Não aceitamos
mais

tapar os
olhos.

E você

? 

 

O
não-racista não é aquele que “não tem nada contra os negros e
índios”. O não-racista é aquele que toma uma atitude para transformar
a situação dos negros e índios.
 

Somos o 2°
pais em população negra no mundo! 47% dos brasileiros são negros!!

Mas apenas
2% dos jovens negros estão em universidades…
 

Por que na
UFRGS menos de 2% dos estudantes e 0,3% dos professores são negros?
Por que em cursos como medicina, direito, psicologia, odontologia, informática,
só vemos brancos?
 

Podemos usar
as palavras e justificativas que quisermos pra amenizar, mas isso não
é menos que APARTHEID!
 

   
A sociedade brasileira se formou sobre bases racistas, e a idéia de
que negros e indígenas são inferiores aos brancos formou nossa cultura
e moldou nossas instituições. Sofremos com um racismo estrutural
que privilegia brancos em todas nossas relações e instituições.
Mesmo que você ou eu nunca tenhamos pensado em termos raciais, todos
nós tivemos nossas vidas moldadas dentro deste sistema de relações
racistas
. As vidas de todos nós, as nossas e a sua, foram construídas
por este conjunto de relações que privilegiam brancos e prejudica,
dia-a-dia, negros e indígenas.

    
E a universidade brasileira, por nunca ter atacado diretamente este
racismo estrutural de nossa sociedade, reproduz e
radicaliza, a exclusão de negros e
indígenas
. A meritocracia é uma mentira: se somos brancos,
fomos privilegiados, mesmo que tenhamos trabalhado  duro para chegar
onde estamos
. Se queremos realmente justiça aos méritos de cada
um não temos saídas: ou criamos Ações Afirmativas, no sentido
de atacar diretamente os pontos onde este
racismo estrutural se manifesta e reproduz, ou eternamente veremos
o abismos entre negros, indígenas e brancos se radicalizar…

      O
que são Ações Afirmativas?

      São
conjuntos de ações que têm como objetivo reparar os aspectos discriminatórios
institucionais e sistêmicos que impedem o acesso de pessoas pertencentes
a diversos grupos sociais às mais diferentes oportunidades. Considerando
que estas populações sofrem diversos processos de exclusão estrutural,
somente com ações estruturais de promoção
específica de sua inclusão é possível reverter tal quadro.
 

Por que
cotas?
As cotas em universidades consistem em estabelecer uma
reserva de vagas
 
 

para pessoas
pertencentes a certos grupos, que ao longo de sua trajetória foram
impedidos de acessar os recursos necessário para ingressar neste espaço.
 

NAO É
FAVOR, É DIREITO!!

  
Negros e indígenas não precisam das cotas, entrar na universidade
é seu direito. Quem precisa de cotas é a universidade, que
tem um método tão excludente  de seleção de alunos que, sem estabelecer
para si mesma uma cota mínima de negros,
indígenas e alunos de escolas públicas, acaba por sempre excluir estas
populações.
 

E por
que raciais?

As cotas raciais
possibilitam diminuir as disparidades entre o grupo privilegiado, branco
e os grupos excluídos, negros e indígenas. Além disso, falar de cotas
estimula o debate sobre a discriminação racial, denuncia o absurdo
de uma sociedade multiétnica, mas que contempla em suas universidades
apenas o segmento branco. Através das cotas de recorte étnico-racial
reverte-se esse quadro, agindo sobre as conseqüências da escravidão
do negro e da expropriação e marginalização do indígena  nesse
país.

As Ações
Afirmativas não são apenas uma forma de reparação histórica aos
danos causados pelos brancos no passado. São medidas para combater
a atualização destas estruturas racistas que continuam organizando
a nossa sociedade hoje, perpetuando, assim, a segregação racial.
 


Uma outra forma de racismo…?

Pelo contrario,
o debate sobre as cotas apenas evidencia a divisão racial existente, 
mas que normalmente é mascarada. Ao contrário do que se diz, esta
política não fere o princípio da igualdade, pois defender as cotas
é contribuir para pôr em prática este princípio constitucional.

Possibilitar um acesso diferenciado a um grupo, devido ao modo como
foi tratado ao longo da história, com menos oportunidades e em desvantagem,
é uma tentativa de diminuir essa desigualdade e não de prolongá-la,
garantindo estes direitos básicos. É assumir que existe uma desigualdade
procurando repará-la.
As cotas raciais não recriam as raças,
apenas põem a mostra o câncer que destruía nossa sociedade às escondidas.

Não se combate uma doença sem tomarmos consciência de que ela existe
em nós. É duro, exige coragem, e muitas vezes, cortar na própria
pele,
mas você deixaria um câncer agindo em você apenas para
não falar sobre ele?
 
 

Por que
não instituir cotas apenas para escolas públicas?

Apesar de
ser importante esse tipo de iniciativa, ela não atinge diretamente
o problema do racismo. O seu caráter universalista não tem forca para
atacar a questão.
A idéia de políticas universalistas de inclusão
é o ideal de todos nós, mas temos que reconhecer a realidade que temos:
se você pegar os dados de todos os problemas sociais brasileiros universalmente
atacados e com resultados positivos nos últimos anos (mortalidade infantil,
alfabetização, geração de empregos, ACESSO À UNIVERSIDADE…),
em todos você perceberá uma inclusão menor de negros e indígenas.
 

Não há
como ser neutro nesta problemática. Manter o que temos, é manter privilégios!!
 

As políticas
de Ações Afirmativas têm de ser complementadas com investimentos
massivos na educação publica em todos os seus níveis, distribuição
de renda e geração de postos de trabalho dignos. Mas nada disso é
alternativo as cotas. Sem as Ações Afirmativas de corte racial, reproduziremos
eternamente a exclusão de negros e indígenas.  Aqueles que entrarem
pela reserva de vagas, e todos seus milhares de apoiadores dentro e
fora da universidade formarão um grande movimento pelo avanço das
políticas de universalização da cidadania brasileira, conscientes
de que este é apenas um PRIMEIRO e por isso, INDISPENSAVEL passo rumo
a muitas lutas e vitórias necessárias.

AGENDA DE
MOBILIZAÇÃO
 

24/06
– TÁ NA HORA DA DIVERSIDADE

10:00
– BRIQUE DA REDENÇÃO

Mobilização
político-cultural.

No arco. 

26/06
– TÁ NA HORA DA DIVERSIDADE

14:30
– Oficina de samba de roda, com abordagem de Capoeira de Angola
– Mestre Chico e Dano. 

Oficina
de artesanato negro.

Centro de
Vivências – Campus do Vale
 

18:30
– Ato-palestra com professores da UFRGS e lideranças do movimento
social negro.

Centro de
Vivências – Campus do Vale
 

27/06
– TÁ NA HORA DA DIVERSIDADE

16:00
– Mobilização político-cultural.

       
Local: Esquina Democrática.

18:30
– Ato-palestra com professores da UFRGS e lideranças do movimento
social negro. Local: Sala 601 da FACED
 

28/06
– TÁ NA HORA DA DIVERSIDADE

17:00
– Concentração político-cultural.
Local: DCE/UFRGS
 

29/06
– TÁ NA HORA DA DIVERSIDADE

Manhã: Café da manhã,
oficinas e votação das cotas no CONSUN.

CONTATOS:

gtacoesafirmativas@yahoo.com.br

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Adiada a Votação de Cotas na UFRGS

O Conselho Universitário (CONSUN) da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) adiou a votação do
projeto de Cotas Raciais e Sociais para o dia 29 de junho. Estava
previsto para ser votada a possibilidade
de implementação de cotas no centro acadêmico
através da proposta da Comissão Especial de
Implementação de Ações Afirmativas, no
dia 15 de junho, porém alguns
membros do conselho que são contra as
cotas pressionaram o adiamento da decisão.

Neste período está
sendo feita uma analise profunda do projeto pelos integrantes
da comunidade universitária que poderão sugerir
alterações na proposta inicial. Representantes do Grupo
de Trabalho (GT de Cotas) e estudantes fazem
reuniões para elaborar estratégias de aprovação
da medida. É um momento importante na tomada de consciência
da realidade educacional no país.

Parte dos estudantes acompanharam a sessão,
enquanto os demais ficaram concentrados do lado de fora da sala
reivindicando os seus direitos, com gritos de ordem "é hora
do negro entrar, hora do índio entrar, não queremos
favor, é direito à educação", cantos
negros ao som dos tambores e rimas feitas na hora. O segundo andar do
prédio da Reitoria virou o palco de manifestações,
onde também se encontrava
alunos do movimento contra as cotas no local. O tempo todo
representantes do GT passaram
informações de como estava o processo de votação
para os que aguardavam por um resultado positivo, a favor das cotas.

Estudantes indignados ao saber que a votação
seria adiada, tentaram ocupar a Sala dos
Conselhos, as portas foram trancadas e os integrantes da CONSUN não
puderam sair por quase uma hora do local. Ao sair tiveram que
passar por um corredor feito pelos
manifestantes que gritavam, "contra as cotas raciais, só
racistas".

A proposta de Cotas Raciais e Sociais será
apreciada novamente no dia 29 de junho
com o objetivo de ampliar o número de estudantes negros e o
egresso de estudantes de escolas públicas no ensino superior.
E será com a mesma garra e força que membros da
comunidade escolar, Organizações do Movimento Negro e
Entidades Religiosas se farão presente para dar aquele axé
e abrir os caminhos dessa nova população que integrará
a Universidade.

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