Criminosos racistas atacam africanos na Universidade de Brasília

 http://www.youtube.com/watch?v=eF_h62P698s

Publicado na Agência de notícias Afropress em 02/04/2007.

Brasília – As portas de três apartamentos do
Bloco B da Casa do Estu­dante Universitário (CEU) da Universidade de
Brasília, ocupados por estudantes africanos da Guiné Bissau, foram
incendiadas por grupos racis­tas por volta das 4h da madrugada desta
quarta-feira. A Polícia federal já tem os nomes de alguns suspeitos e
investiga o caso. A UnB tem cerca de 150 estudantes africanos como
alunos, de vários paises do Continente.


Durante a tarde, um ato
de protesto reuniu cerca de 300 estudantes, africanos e brasileiros, que
lotaram o auditório para exigir providên­cias do reitor Timothy
Mullholhand. “A universidade sofreu um aten­tado. Temos de enfrentar
essa questão e os nossos esforços serão no sentido de buscar a
convivência pacífica entre todos os alunos”, disse o reitor, admitindo
colocar câmeras para vigiar a Casa, que terá o reforço de seguranças.

Atentado

Os
moradores acordaram com o cheiro forte de fumaça, que tomou os
cor­redores e levou pânico. Na ação racista também foi empregada uma
bomba de fabricação caseira. Os criminosos tiveram ainda o cuidado de
esva­ziar os extintores de incêndio do primeiro e segundo andar para
impe­dir que o fogo fosse debelado. Todos os apartamentos, onde vivem
os estudantes africanos tiveram as portas marcadas com cruzes vermelhas.


“Eu
só levantei porque meu amigo alertou sobre a fumaça. Desesperados,
pulamos a janela e fomos procurar pelos extintores. Nenhum funcionava,
só um do terceiro andar”, contou o aluno do Curso de Administração de
Empresas, Samory de Souza, da Guiné Bissau, que divide o apartamento
106 com mais três amigos.

As estudantes senegalesas Racky Sy e Wolette Thiam, respectiva­mente dos cursos de Letras e
Arquitetura, contaram os momentos de pa­vor. “Sem dúvida nenhuma isso
foi motivado pelo racismo e pelo precon­ceito”, diz Racky, que mora com
a amiga no apartamento 105, que teve toda a porta consumida pelo fogo.
As duas alunas reclamaram da falta de segurança na Casa do Estudante.
“Aqui não tem segurança. De madru­gada você não acha ninguém e, quando
acha, estão dormindo profundamente”, diz Racky.

Rotina

Os
atos racistas contra os estudantes africanos têm ocorrido com
fre­qüência. No mês passado as paredes dos corredores foram pichadas
com frases ofensivas. Os alunos acusam a direção da UnB de tentar
contem­porizar. “Registramos a queixa na administração. Eles foram lá
quando não havia ninguém e pintaram as paredes. Eles nos disseram que a
ima­gem da instituição tinha que ser preservada e que problemas assim
ti­nham que ser resolvidos amigavelmente”, disse Wollet.


Numa outra
oportunidade, segundo ela, pessoas ligadas à administração disseram que
as queixas eram um exagero. “Eles disseram que estávamos exagerando e
que a gente morava aqui de favor. Um deles chegou a dizer que nada
garantia que os próprios alunos africanos não fossem os autores das
pichações”, desabafa.

Os moradores dos apartamentos que tiveram as
portas queimadas suspei­tam que os autores dos incêndios sejam
estudantes que moram no mesmo bloco. Eles informaram os nomes dos
suspeitos à Polícia Federal, que investiga o caso. Segundo o presidente
da Associação de Moradores da Casa do Estudante Universitário, Geraldo
Marques dos Santos Júnior, nunca tinha aconte­cido algo tão grave.
“Desta vez a ameaça de morte quase foi consumada. Em um dos
apartamentos, o botijão de gás fica do lado da porta. Podia ter
acontecido uma tragédia”, afirmou. Marques acrescentou que se tratou de
uma ação racista. “Chega. Foi o limite. Temos que combater o racismo e
o preconceito que existe dentro da UnB”, concluiu.

Providências

O
Ouvidor da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial, Luiz Fernando Martins da Silva, acompanhou o caso durante todo
o dia. À tarde, esteve com o reitor da UnB, Timothy Mullholhand, e
re­cebeu os estudantes africanos na SEPPIR.

De lá seguiu com
eles para a Procuradoria Regional dos Direitos do Ci­dadão do
Ministério Público Federal e para o Núcleo de Enfrentamento da
Discriminação do Ministério Público do DF. Tanto na Procuradoria quanto
no NED foram instaurados inquéritos.

"Há uma comoção porque é um
problema muito grave. Não dá prá saber se é um ato isolado, se um ato
de grupo. Eles estão mais calmos porque estão acompanhando a ação do
Estado, concluiu.

O delegado Francisco Serra Azul, da Delegacia
de Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente e o Patrimônio Histórico
(Delemaph), disse que já foram coletadas as impressões digitais no
local do crime.Também foi recolhido o material inflamável usado para
atear fogo às portas dos dormitórios e está sendo analisado pela
perícia.

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