”O Brasil precisa ser multicultural”

Publicado no website da Universidade de Brasília em 20/06/2007

Para socióloga da etnia indígena Kaingang, políticas públicas de afirmação étnica só serão efetivas quando Estado e a sociedade brasileira compreenderem sua real importância

 

 

Das 5,8 milhões de pessoas formadas

nas universidades apenas 0,1%

é de origem indígena.

 

Pai de uma universitária matriculada em Direito e Nutrição, o índio Xavante Jeremias Tsibödöwapre, tem severas críticas à atuação do Ministério da Educação (MEC) no que diz respeito à educação indígena. Ele afirma que, nas aldeias, o governo está omisso. “Nossos professores estão sem perspectiva de melhorar a educação e o MEC deveria estar presente lá, na ponta, porque nossas comunidades são as maiores prejudicadas”, destaca. O manifesto foi feito na Audiência Pública sobre a Ausência de Políticas Públicas Efetivas para a Educação Superior Indígena, realizada na manhã de segunda-feira, 28 de novembro, no auditório da Escola Superior do Ministério Público da União em Brasília.

A queixa dele é reforçada pela socióloga Azelene Kaingang, da etnia indígena Kaingang. Ela considera que o Estado brasileiro precisa se reconhecer multicultural para que suas políticas contemplem todas as parcelas da população. “A política da educação superior precisa dialogar com as nossas diferenças também. Isso ajudará a evitar o processo de ‘embranquecimento’ das universidades e do saber”, ressalta. Na avaliação da socióloga, muitos dos problemas de abandono de cursos podem ser resolvidos com adaptações dos dois lados, tanto por parte dos indígenas quanto das instituições de ensino superior. 

Para Azelene, políticas devem contemplar todas as raças

 

 

Para Azelene, políticas

devem contemplar

todas as raças

 

“Não somos só nós que precisamos nos preparar para acessar às universidades. Elas também precisam ser preparadas para nos entender sem preconceitos nem discriminação, respeitando nossos processos internos e nosso tempo individual”, alerta. Azelene denuncia que muitos professores não entendem os estudantes indígenas, que acabam sendo discriminados por conta dessa convivência. O resultado desse processo é apresentado por Francisca Novantino, representante indígena no Conselho Nacional de Educação.

INTERESSES – De acordo com Francisca, os índios conseguiram, em 2000, 100 vagas para instituições de ensino superior federais e particulares. Dessas, apenas 50 foram ocupadas e somente 15 estudantes concluíram seus cursos. “A maioria dos desistentes alega ter vivenciado problemas tanto de preconceito quanto de cobrança de retorno por parte de suas etnias”, revela.

Francisca considera que as iniciativas do Ministério da Educação (MEC) são tímidas e que apenas no governo de Luiz Inácio Lula da Silva se começou a discutir a inserção indígena no ensino superior. “Durante os oito anos de Fernando Henrique Cardoso, tentamos levantar essa discussão, mas eles só queriam saber da educação básica. Temos uma grande demanda não garantida”, reclama.

Ela afirma que as comunidades desejam a formação em áreas variadas (88% em Ciências Humanas e Sociais; 8% em Ciências Biológicas e da Saúde e 4% em Exatas) para que esses indígenas formados possam atuar na defesa de suas etnias. “Precisamos de dispositivos para garantir que quem entrar o fará pelo critério coletivo e não individual. Não queremos apenas ter índios formados, mas  atuantes para melhorar a vida de suas tribos”, reforça Francisca.

 Fonte:  UnB Agência. Fotos: Camila Martins/UnB Agência.

This entry was posted in Geral. Bookmark the permalink.