Articulação nacional de quilombolas protesta contra a Globo

 

 A CONAQ – Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades
Negras Rurais Quilombolas se prepara para realizar no próximo dia 5 de
outubro um ato para questionar o papel das concessões públicas de
televisão e o oligopólio das comunicações no país. O principal alvo da
manifestação é a Rede Globo de Televisão, acusada de criminalizar e
deslegitimar o movimento dos quilombolas. O ato pretende agregar outras
entidades e movimentos sociais,  e a idéia é que nesse dia haja um
boicote à programação da Globo e que se realizem atividades nos
quilombos sobre análise de mídia.
 Outras organizações que defendem a democratização da
comunicação planejam manifestações para o mesmo dia para reivindicar
transparência na outorga e renovação das concessões de rádio e
televisão. A data foi escolhida pelas entidades pois nesse dia vencem
as concessões da Rede Globo, TV Bandeirantes e TV Record.

A manifestação dos quilombolas é motivada por
matérias recentes veiculadas na imprensa com conteúdo discriminatório e
que contestam tanto a legitimidade das comunidades quanto o
reconhecimento, pelo Incra, de territórios que foram ocupados por
quilombos durante a vigência do regime escravocrata no Brasil. O
estopim da indignação foi uma reportagem veiculada no Jornal
Nacional do dia 14 de maio deste ano, onde a emissora acusa a
comunidade remanescente de São Francisco do Paraguaçu, em Cachoeira –
BA, de falsificar documentos e, portanto, fraudar seu processo de
legalização enquanto comunidade descendente, já aprovado pela Fundação
Cultural Palmares, ligada ao Ministério da Cultura. Em nota divulgada
na época ( leia aqui), a CONAQ acusava a Rede Globo de manipular os fatos em benefício dos fazendeiros locais.

A primeira iniciativa da CONAQ foi entrar com um pedido de
direito de resposta contra a Rede Globo, que ainda não teve retorno.
Agora, do ponto de vista jurídico, a entidade pretende procurar o
Ministério Público para tomar as medidas cabíveis. "A reportagem
veiculada pela Globo foi forjada. As entrevistas com o nosso povo foram
simplesmente ignoradas. Até a Rede Record chegou a fazer uma reportagem
negando o que havia passado na Globo, mas por pressão dos fazendeiros,
ela nem chegou a ir ao ar", descreve Clédis Souza, uma das
coordenadoras da CONAQ.

Segundo os organizadores, a manifestação do dia
5 de outubro é mais uma oportunidade para demonstrar a insatisfação dos
movimentos sociais com a mídia conservadora e suas investidas contra os
setores populares. Clédis Souza diz que vários movimentos já foram
contatados, como o MST e o movimento negro no sentido de se agregarem
ao ato. "É importante, no dia 5 de outubro, que mostremos que também
temos força para questionar esta emissora, fazendo um boicote que crie
repercussão", conta.

 
*
 
Confira o manifesto elaborado pela Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas:
 
CARTA CONVOCATÓRIA
A Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras
Rurais Quilombolas – CONAQ, entidade representativa das comunidades
quilombolas de todos os estados da Federação, convoca todas as
entidades e movimentos sociais para construir o Dia Nacional de Repúdio
à Emissora Rede Globo de Televisão. 

A nossa proposta é que o próximo dia 05 de
outubro de 2007 fique marcado pela manifestação "GLOBO, A GENTE NÃO SE
VÊ POR AQUI!", que irá expressar a indignação dos movimentos sociais
criminalizados, direto ou indiretamente, por essa emissora.  

Nós, quilombolas, estamos vivenciando, como
outros movimentos, de uma investida da REDE GLOBO com matérias que
negam a nossa identidade étnica e contra o decreto 4887/03, que
regulamenta o processo de titulação dos territórios de quilombos. 

Questionamos: 

. O
jornalismo da Rede Globo, pois possui uma postura tendenciosa a serviço
das oligarquias, cujos interesses sempre entram em conflito com os
interesses das classes populares;
. A formação da opinião pública dessa mídia, já que essas
matérias acabam contribuindo para um maior desconhecimento da luta dos
quilombolas e de outras lutas, desarticulando os diversos movimentos;
.
O ineficiente controle que todos os poderes públicos e sociedade
possuem em relação a esta emissora, já que não se sabe quando se renova
as suas concessões, não há fiscalização se os Direitos de Respostas são
cumpridos, não há punições em relação às distorções cometidas, entre
outras.

Sugerimos que neste dia (05 de outubro) sejam realizadas
atividades, nas quais se discutam sobre o papel da Rede Globo na
sociedade brasileira, analisando como essa emissora desrespeita a
diversidade dos movimentos sociais e de entidades. 

A nossa postura política representa um ato de repúdio ao
abuso de um grupo de mídia privado que se utiliza da concessão pública
para descredibilizar aqueles e aquelas, que há mais de 500 anos,
constroem a história desse país.

Contamos com a sua adesão.

 
Fonte:  http://www.direitoacomunicacao.org.br/novo/content.php?option=com_content&task=view&id=913
Autor: Henrique Costa – Observatório do Direito à Comunicação
This entry was posted in Acontece. Bookmark the permalink.