Resposta do Levante Popular da
Juventude a acusação de ameaça física aos conselheiros do CONSUN no jornal Zero
Hora.
Nós, militantes do Levante Popular da Juventude , manifestamos nosso absoluto
repúdio à manipulaçao grotesca operada pelo Jornal Zero Hora com o
objetivo claro de transformar nossa disposiçao em debater com os Conselheiros
da UFRGS sobre as cotas em uma ameaça de agressão aos mesmos.
A reportagem do dia 22 de junho da ZH, sobre a suposta coação que os
conselheiros da universidade estariam sofrendo, é o ápice de um processo de
manipulação orquestrado pela mídia contrária as cotas e aos movimentos sociais.
Este trabalho de distorção da verdade começou há quase dois anos com o
ocultamento da mobilização dos segmentos da sociedade favoráveis as cotas . No
último período, a grande mídia, além de velar as mobilizações em defesa da
democratização da universidade, tem superdimensionado as ações políticas do
embrionário "movimento" anti-cotas.
Por último, a reportagem acima citada acusa o Levante da Juventude de
estar coagindo os conselheiros da UFRGS através de mensagens aeletrônicas. Para
sustentar tal disparate, ZH descontextualiza uma frase do e-mail enviado por
nossa organização no qual unicamente nos colocavamos a disposição dos
conselheiros para levar a eles informações sobre a proposta de cotas na UFRGS.
A mínima leitura do próprio quadro da ZH, na página 39 da edição de 22/06/07,
onde aparece apenas parte de nossa mensagem, já mostra que nós estavamos
claramente colocando-nos à disposição para levar o debate e as informações a
todos os conselheiros que o desejassem, no local em que escolhessem. Por isso
indicamos "saber onde trabalhavam" (dado público, pois são funcionários
da Universidade Federal) e que poderíamos "acompanhá-los onde fosse
preciso", ou seja, levar informações àqueles que não vieram às dezenas de
debates realizados sobre as cotas na UFRGS, no local que estes determinassem.
Este foi o sentido único e claro da mensagem.
Evidência de que o e-mail enviado não continha ameaças aos destinatários é a
resposta que alguns conselheiros enviaram aceitando o convite ao diálogo e
inclusive elogiando a nossa atidude de abertura ao debate. [Para que não pairem
dúvidas sobre o conteúdo do e-mail anexamos a esta nota a mensagem na integra
juntamente com a resposta emblemática de uma das conselheiras que o recebeu.]
O debate e a troca de idéias que nos propomos a realizar com os conselheiros é
um processo inerente às sociedades democráticas do qual ninguém precisa ter
medo. Só tem medo do debate quem sabe que suas posições só se sustentam por seu
poder econômico e não pela justiça de suas propostas.
Além de produzir acusações infundadas, é curioso que este periódico tenha concedido
espaço na matéria apenas a um professor sabidamente anti-cotas sem dar voz ao
contraditório, atitude completamente contrária às regras elementares do
jornalismo democrático.
A capacidade de distorção dos fatos se torna ainda maior quando se sabe que
dentre os coordenadores do movimento anti-cotas na UFRGS existem pessoas como
Gabriel Marchesi, que já se declarou fascista e admitiu ter convocado pessoas
identificadas com a causa Nacional-Socialista no Brasil, para pensar,
"juntos, uma maneira eficaz de deter esses odiosos vermes judeus.",
publicado em reportagem divulgada na Folha de São Paulo em 08 de junho de 2005,
fato negligenciado pela mídia gaucha. Ou seja, enquanto a Zero Hora necessita
manipular fatos para desconstituir o movimento pró cotas, simplesmente ignora
fatos concretos e públicos sobre o caráter de alguns integrantes do grupo que
rejeita as ações afirmativas e que demonstram as verdadeiras intenções e
motivações de um segmento dos promotores da campanha contra cotas.
Sabemos que por trás desta reportagem há uma campanha difamatória permanente da
grande mídia contra os movimentos que lutam pela igualdade e pelos direitos
humanos. Mas a tática de deturpação da verdade empreendida por este periódico,
com tal manipulação grotesca contra o Levante da Juventude assemelhasse
claramente aos método dos defensores da ditadura quando acusavam de terrorismo
aqueles que lutaram pela democracia.
Reforçamos, portanto, nosso posicionamento de abertura ao debate com todos
aqueles que se dispuserem a tanto e rejeitamos qualquer tentativa
anti-democrática de desqualificação dos setores da sociedade que historicamente
lutam por uma sociedade menos excludente.
Não nos intimidaremos com ataques vís aos nossos movimentos. Sabemos que esta
não é a primeira nem a última vez que nossos movimentos são atacados
covardemente pela grande mídia. Mas também sabemos que quando os de cima
tremem, é porque os de baixo se levantaram. E certamente porque acertaram no
seu ponto fraco. A disposição democrática ao debate franco de idéias e fatos.
Com certeza se nosso trabalho gerou tamanha indignação por parte das forças
conservadoras é porque, também graças a ele, estamos mais perto de ver a UFRGS
democratizada através das cotas raciais e sociais.
PÁTRIA LIVRE!
VENCEREMOS!!
Levante Popular da Juventude
Cópia integral da mensagem enviada aos
Conselheiros da UFRGS:
"Cara
conselheira, somos do Levante Popular da Juventude, organização onde se articulam
os jovens de diversos movimentos populares (como o Movimento dos Desempregados-
MTD, Pastorais de Juventude, Catadores, MST, Resistência Popular,
Pequenos Agricultores- MPA, Atingidos por Barragens-MAB, Via Campesina, etc).
Queremos debater com você sobre a aprovação das Cotas na UFRGS no dia 29 de
junho. Nos colocamos a inteira disposição para dialogar com você sobre a
proposta, de forma a dirimir todas as tuas dúvidas para que possas votar a
favor da proposta da Comissão Especial com muita tranquilidade. Sabemos seu
nome e onde você trabalha. Por isso, podemos acompanhá-lo como for necessário.
Se
desejar, podemos fazer uma conversa pessoalmente, ou trocarmos questões por
e-mail mesmo. Apenas insistimos que, no que depender de nós, não evitaremos
esforço algum no sentido de dirimir todas as tuas dúvidas sobre a proposta de
cotas.
Não
falaremos demais aqui. Ficaremos no aguardo de sua resposta sobre se já tem
alguma posição definida, se tem dúvidas ou temas que ainda gostaria de
aprofundar. Por hora, apenas gostaríamos de dizer que:
1.
Todos reconhecemos que a UFRGS, como uma universidade federal, hoje não
reflete a sociedade brasileira. 80% dos alunos brasileiros estudam em escolas
públicas, mas há cursos na UFRGS como medicina, direito, odontologia,
engenharia da computação, psicologia, biomedicina, nutrição, etc, em que menos
de 1% dos alunos provém de escolas públicas. Por outro lado, 48% da população
brasileira é negra, mas menos de 2% dos estudantes da UFRGS o são. Não há
nenhum estudante indígena em toda a universidade.
2.
Isso mostra a necessidade de Ações Afirmativas urgentes para mudar este quadro.
Mas não precisamos inventar a roda para achar as soluções. O movimento
anti-racismo no Brasil já estuda sobre isso há mais de 30 anos e já apontou as
melhores soluções que já se encontrou até hoje: políticas públicas de combate
às raízes do racismo (como o estudo da história da África e dos negros no
Brasil que finalmente foi aprovada em 2005), políticas de combate a pobreza
(visto que 83% dos pobres do Brasil são negros) mas, como medida emergencial
COTAS para negros e indígenas aonde quer que estas populações estejam,
recorrentemente, subrepresentadas. As cotas não são políticas novas. Foram
usadas para combater desigualdades de gênero (como para mulheres em disputas
eleitorais) e para portadores de necessidades especiais, entre outros. As cotas
não são favor nem empurrarão para dentro da universidade pessoas incapazes.
Quem necessita de cotas é a própria universidade, que tem um número tão ínfimo
de vagas para sua demanda e um critério de definição dos aprovados tão
questionável, que necessita definir para si uma cota de determinads populações
que passarão a compô-la, desde que qualificadas, as quais, sem tais cotas,
permanecerão fora da universidade. As cotas servirão para a própria
universidade medir seu grau de inclusão social e ir ampliando sua diversidade
interna de forma qualificada.
Por
tudo isso, nós do Levante da Juventude, que há 3 anos atrás eramos contra
cotas, hoje exigimos Cotas Raciais e Sociais na UFRGS, já. Nós fomos atrás de
informações, estudos, e aprendemos muito. E, não a toa, defendemos na Comissão
Especial uma proposta de Cotas de 60%. Sendo 40% sociais (medido por renda,
como na UERGS) e 20% raciais. Mas na negociação com a Comissão Especial eleita
pelo CONSUN fomos recuando na negociação até chegarmos ao limite de 20%+20%
(sendo sociais por escola pública e não renda) em 2010, 15%+15% em 2009 e
10%+10% em 2008. Por isso, não aceitaremos menos do que isso. Muita injustiça
ainda permanecerá dessa forma, mas já será um avanço para a universidade ao
menos esta proposta. Uma negativa neste sentido seria uma reafirmação de que a
UFRGS deseja permanecer sendo a universidade mais segregada do país que ocupa,
simultaneamente, a piores posições nos indíces de desigualdades sociais e de
segregração racial no mundo. Por isso, não exitaremos em fazer o que for
necessário para garantir esta aprovação. Inclusive por sabermos que mais de 30
universidades já adotaram tais políticas pelo Brasil a fora e apenas ganharam
com isto.
A
UFRGS não pode alienar-se destas informações e agir como um avestruz. Até
porque, fora do buraco onde os Conselheiros poderiam esconder seus rostos estão
milhares de pessoas sedentas por justiça.
Reafirmamos
que ficaremos aguardando para receber sua resposta indicando sua posição neste
debate, e nossa total disposição em apresentar, detalhada e gentilmente as
justificativas que nos levam a apoiar proposta da Comissão Especial.
Atenciosamente,
Levante Popular da Juventude.
18 de setembro de 2007"
Resposta integral da conselheira do
Consun Roseli Pereira a nosso email:
Sou
conselheira e sou a favor das quotas, tanto que meu Suplente, o Edilson, está
participando da Comissão Especial e faz a defesa e a votação – dou meu lugar a
ele.
Admiro
muito esse grupo Levante e, com certeza, ainda vou fazer um trabalho envolvendo
o movimento de vocês!!!
Roseli
Eu bem que achei que era mesmo mais uma manipulação dessa mídia mentirosa e parcial do Rio Grande do Sul.
Ninguém seria tolo o bastante para ameaçar os conselheiros, ainda mais neste contexto.
Parabéns ao Levante pela sua disposição dialógica e realmente democrática.
Sandra